terça-feira, 16 de novembro de 2010

OPINIÃO
Urge salvar a Casa de Angola!

Em 1946, a Casa de Angola (ou Casa dos Estudantes de Angola), juntamente com a Casa de África, a Casa de Moçambique e a Casa de Macau, deu origem à Casa dos Estudantes do Império, local de encontro para estudantes africanos, no qual desenvolveram consciência política, social e cultural e produziram riquíssima literatura. A "Geração da Utopia", retratada por Pepetela.



A actual Casa de Angola, propriamente dita, viria a ser refundada por  escritura pública no dia 25 de Junho de 1971, por estudantes oriundos da Casa dos Estudantes do Império. 


Nas diferentes fases históricas, e distintos edifícios, pelas duas casas, a de 
Angola e dos 
Estudantes do Império, passaram Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Vasco Cabral, Pepetela, Arménio Ferreira, Carlos Beli Belo, Rui Romano, entre muitos outros. 


A Casa de Angola foi alfobre do nacionalismo angolano, onde os heróis africanos, muitas vezes ajudados por progressistas portugueses da Oposição democrática, do MUD e do PCP, resistiram às tentativas de controlo por parte do governo fascista colonial, por meio de estudantes infiltrados pela PIDE-DGS e pela Mocidade Portuguesa.


Nas próximas eleições para os órgãos sociais da Casa de Angola, está em causa a opção pela restauração da dignidade e do prestígio de uma memória viva do nacionalismo, a que se propõe a lista “Mudança Necessária” liderada pelo médico e antigo Delegado Provincial da Saúde do Kwanza Sul, Miguel David Natal, e integrada por professores universitários, médicos, juristas, economistas, engenheiros, técnicos geólogos, farmacêuticos, associativistas, artistas, sindicalistas, jornalistas, editores e historiadores, com um elevado sentido cívico, genuíno amor por Angola; ou o começo da transformação da Casa de Angola num centro de negócios e fórum de actividades políticas contra o Estado angolano, urdidura na qual muitos sócios bem intencionados se deixarão iludir por estrangeiros em busca de lucro fácil.




Esta última opção seria um crime de lesa-memória, na justa proporção comparável com a transformação da sede da polícia política do Estado Novo português, na António Maria Cardoso, a um logradouro de luxo! 


A questão ultrapassa os sócios da Casa de Angola! Urge mobilizar as boas consciências! Urge salvar a Casa de Angola!









por Joaquim Fonseca, natural da Gabela, candidato a secretário adjunto

(nas fotos, a página 398 e a capa do livro “European-language writing in sub-Saharan Africa, Volume 1”,
Albert S. Gérard, John Benjamins Publishing Company, 1986, uma das muitas fontes bibliográficas onde consta a memória da Casa de Angola. Nem sempre tem havido unanimidade entre os especialistas sobre a precisão das datas históricas aqui mencionadas. Luandino Vieira, aliás, escreveu que a Casa dos Estudantes do Império "aguarda um biógrafo à sua altura". A principal referência, ora escolhida, provém de um reputado africanista e comparatista que foi Professor de Literatura na Universidade de Liege. A importância da Casa de Angola para o nacionalismo angolano é, contudo, inquestionável)