sábado, 20 de novembro de 2010

OPINIÃO
MUDANÇA NECESSÁRIA
e Estudantes Angolanos em Portugal


Da minha experiência como docente universitária, fica-me  o acompanhamento da odisseia de muitos alunos angolanos que fizeram o esforço para continuar a sua formação académica em Portugal. Seja para obter as suas Licenciaturas seja para prosseguirem os estudos de especialização em Mestrados ou mesmo programas de Doutoramento.

A maior parte destes alunos debatem-se com várias condicionantes  que, à partida, os limitam no seu objectivo principal: Realizar a sua formação universitária.

Começam, muitas vezes por chegarem atrasados relativamente ao início do ano académico, à formação das turmas à integração de grupos de trabalho, às primeiras aulas.
O clima, que já vai frio e chuvoso, bem diferente do clima que deixaram na sua terra natal, obriga-os à  procura da roupa adequada à feição das bolsas de estudo, quantas vezes também elas, em atraso de pagamento. Se alguns destes conterraneos, podem contar com o apoio de familiares e amigos, já residentes em Portugal, outros chegam totalmente desprotegidos nesta matéria, essencial para o seu conforto, começo de vida e integração num país diferente. Comprar onde ? O quê?

Nas Universidades, tudo é novo. Desde os procedimentos administrativos, aos métodos pedagógicos, aos modelos de avaliação. O acesso às fontes de informação recomendadas pelos professores, nem sempre é fácil. Se algumas universidades disponibilizam o acesso universal e “free” à Internet, outras nem dispõem de computadores em número que permita flexibilidade de utilização para quem não tenha este recurso próprio e essencial para qualquer estudante.
Por outro lado, alguns alunos chegam com déficit de conhecimentos de base, especialmente no inglês. Isso implica um esforço adicional do aluno, uma dedicação maior, e quantas vezes o apoio com aulas suplementares para se ajustarem ao nível médio das turmas.

O alojamento é outra luta. Encontrar o quarto, a residência universitária, ou que seja uma cama num local de acesso fácil e barato à universidade, é sempre muito trabalhoso e moroso, direi mesmo penoso. Exige ajuda de quem já tenha experiência, conheça os canais.

E quando bate a saudade, a lembrança das farras de sábado, das tertúlias familiares de domingo, do aconchego maternal, da amizade dos ex-colegas, do sabor da muamba, do cheiro da terra molhada, do alerta da trovoada? Faz falta quem os oiça, quem os compreenda, quem os conforte.

É  com isso que os angolanos, a estudar em Portugal, podem contar com a “Casa de Angola” e a lista “Mudança Necessária”. Apoio à sua integração em Portugal, a fim de alcançarem os seus objectivos com entusiasmo e perseverança. Os resultados serão certamente prestigiantes individualmente e para a Nação.  



- Maria do Carmo Lucas, docente universitária (Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa), candidata a Secretário da Mesa da Assembleia Geral